Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Resultados dos donativos

Depois da passagem do 'Mr President', Dr. Carlos Torres, o orfanato foi sujeito a uma autêntica 'revolução' e a azáfama foi intensa durante umas boas semanas. O generoso donativo da Fundação Lapa do Lobo permitiu ali a concretização de verdadeiros milagres nunca antes testemunhados pelos atuais habitantes da casa.
De loja em loja, e com a ajuda dos meus habituais 'colaboradores', começámos por abastecer a casa com quilos e sacos de comida: arroz, lentilhas, batatas, cebolas, alhos, farinha, grão, feijão, milho, cereais e outros produtos incluindo suplementos vitamínicos para a Jyoti e algumas das crianças.
 Frutas e legumes.
Pratos, tachos e outros novos utensílios para a cozinha.
Sucederam-se as idas ao médico, ao dentista e à farmácia: a alergia de pele da Sima, as infeções de boca da Santu e a lastimável dentição do Suraj que em nada facilitou o trabalho dos especialistas.
É um processo que ainda decorre e que irá demorar algum tempo até ser resolvido devido à sua tenra idade. Uma coisa é certa: o rapaz está agora mais desdentado e terá que aguardar a substituição dos dentes de leite.
Conforme igualmente acordado com o 'Mr President', deslocámo-nos à loja de acessórios para comprar motor, torneiras, tubos e todo o material necessário para reparar a canalização da casa e bombear a água, de modo a que passe a haver água corrente no seu interior.
Agora a água é bombeada a partir do reservatório do quintal para este no terraço, podendo ser aquecida ao passar pelos painéis solares...
... até sair pelas novas torneiras, algo que nunca fora visto nesta casa por estas crianças.
As anteriores imagens de banhos ao relento, faça sol ou faça chuva, provavelmente não serão repetidas...
Tal como a loiça que pode agora ser lavada no interior da cozinha com água corrente, em vez de o ser no exterior com água do balde.

Depois precipitaram-se uma série de 'atabalhoados' e felizes acontecimentos que ajudaram à 'revolução' naquela casa. Conheci a Eva e a Sarah, alemãs, bem como a Nicole e o marido, no parque. E também elas contribuíram com roupas novas, calçado, brinquedos, mochilas e outras coisas mais.
Foi com a Sarah que me desloquei à cidade para fazer compras 'de peso' sem o conhecimento da Jyoti: máquina de lavar roupa e frigorífico.
E esperámos ansiosamente pela sua entrega que acabou por acontecer já noite, precisamente durante o período de corte de energia elétrica em Pokhara. Deslocámo-nos pois, as duas, às imediações do orfanato, seguindo pelo atalho junto ao canal de água, campos adentro, munidas da minha lanterna recarregável. Coisas que só no Nepal e assim...
Ao sentirem-nos chegar com a carrinha da firma que nos apanhou no cruzamento, todos os miúdos acorreram à ladeira, aos gritos de felicidade.
E o imparável momento de cânticos e coreografias que se seguiu foi digno de registo e para sempre ficará gravado nas nossas memórias.
Depois tudo aproveitam para a brincadeira...
Foi a hora de uma vez mais ir com a Jyoti a lojas de acessórios elétricos e encontrar canalizador-eletricista para fazer as ligações dos aparelhos domésticos e outras reparações necessárias.
A primeira lavagem da máquina suscitou, claro está, a curiosidade geral... A Jyoti nem queria acreditar que, doravante, poderá tratar de outros afazeres enquanto a máquina se encarrega do assunto e que as suas mãos, esfoladas de tanta lavagem manual, podem agora repousar desta árdua tarefa.
E no lugar do frigorífico-despensa está agora um novo e funcional.
Para além do gás, trouxemos também um carregamento de combustível de madeira para os fogões a lenha do quintal.
Um novo 'palco' para as danças da miudagem...
E estrume para a pequena horta.
Conseguimos permissão para pintar um painel em desuso e encarreguei-me de trazer o pintor ao local para o fazer. O nome da instituição exibe agora o nome da Jyoti se bem que ainda decorrem as complicadas 'negociações' com o comité de direção, que não ata nem desata, através da ajuda do advogado.
Os meus 'colaboradores' arranjaram também a pequena capoeira e lá vou eu com a Jyoti à cidade na mira das galinhas... que tardaram em aparecer. Foram mais de duas horas à espera delas, trouxeram-nas de uma aldeia nas proximidades.
Chegámos a casa de noite com os galináceos no táxi, bem como outros apetrechos, medicamentos e 50 kg de ração que um vizinho transportou ladeira acima.
Quinze tímidos pintos habitam agora ali.
Entretanto chegou mais um donativo de uma amiga, obrigada Maria José! Pagou-se mais uma renda de casa (cem euros) e juntámos mais um papel manuscrito às restantes faturas (por mais que tente não consigo todos os recibos...).
Todas as crianças estão agora de férias e o novo ano escolar começará em meados de abril. A Alisha e a Jasmine realizaram com sucesso os seus exames e todo o próximo ano escolar, das duas, na Shining Star Secondary Boarding School, já está totalmente pago. Os custos, inflacionados, constam do post precedente. Fui congratulada pelo diretor por ser a primeira pessoa a fazê-lo, este ano. E eu agradeço uma vez mais ao 'Mr President' que me salvou da missão a que me propus... Obrigada, Dr. Carlos Torres!
 
Estas crianças terão mais oportunidades no futuro do que a maioria no Nepal na sua idade e muito bom seria se conseguíssemos patrocinar todas as outras. De qualquer forma, e apesar da instabilidade e precariedade do ensino público, que flutua com as 'crises governamentais', todas as crianças têm, neste lar, condições que não teriam se permanecessem nas suas aldeias, na maioria remotas e sem acesso a transportes públicos. Veja-se, por exemplo, a foto, em baixo à direita, da casa onde vive a mãe da Ruth, uma senhora viúva e totalmente paralítica dos membros inferiores.
Apesar de este ano não ter conseguido alcançar a soma dos donativos que angariei o ano passado, toda a ajuda foi, desta feita, canalizada para o Everest Children's Home, o que facultou a realização de todos estes 'milagres'. Porque é que isso não aconteceu o ano passado? Pois bem, aqui fica de vez a verdade: Lembram-se dos 'casos de polícia' em que eu me vi envolvida? Acordei eu um dia no hotel e tinha três polícias à minha espera que me levaram para a esquadra. Foi o Chandra que fez queixa e que me tentou 'tramar' já que nunca lhe passei o dinheiro para as mãos... Mas nem a polícia passou cartão ao desvairado homem avarento sabendo que precisamente eu estava ali para os ajudar.
Uf!!! Foram três meses intensos de ralações, dores de cabeça e noites de insónia para finalmente poder dizer 'Missão cumprida. O orfanato tem agora muitas perninhas para andar'. E entretanto chegou a Nona que se encarregará de continuar a levar os miúdos ao médico e de comprar os novos livros escolares. E conheci o Anil através do qual estou em contacto com uma organização para trazer mais voluntários...
Estou cansada. Preciso de me afastar. 
Vou de férias...

4 comentários:

  1. Parabéns miúda....persistencia, perseverança e amor pelo próximo....
    Felicidades e continua a realizar-te

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    1. Obrigada pelas tuas palavras de apoio, Carlos. E que tu também, com muita música! Abraço

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  2. Lya, I have a tremendous amount of respect for you, Jyoti, the other volunteers and those who donated money to the orphanage.

    After I left the Everest Children's Home almost exactly a year ago Jyoti e-mailed me to ask for my help a few months later. I regretted that I was not able to help and was worried about the fate of the orphanage because it needed more support.

    I'm very glad to read on your blog that things have changed for the better at the orphanage, thank you so much for writing on the state of the orphanage on your blog.

    A few more questions, you briefly mention your memories of Chandra in this post. I've also read all your other posts up to your post about Southern India, but you do not mention him in your other posts about the orphanage and I don't see him in the photos either. Did he leave Jyoti and the orphanage completely?

    By the time you left the Everest Children's Home a few weeks ago, was my whiteboard still operational? Just curious, the quality of the thing had me worried that it would not last more than a few months.

    You've also visited India I see. While I do not have the time to read everything, did you also do volunteer work there? Because my time in Nepal was such a positive experience (even though my memories of Chandra were quite negative as well) I intend to visit India this or next year and hope to be doing volunteer work there as well. I was wondering if you might have some recommendations for me on where I could find volunteer work?

    Greetings from the cloudy and rainy Netherlands!

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    1. Dear Alexander, thank you so much for your great comment! It's so nice for me to get some feedback and support on this matter. Chandra left the home last year with all the money he could get from the volunteers... and that's why i help Jyoti so much :) Really brought there many help this year and more coming through more friends. In this moment I believe i can turn my attention to other poor kids from mountain villages, I also helped them before but was not able (at least yet) this year as all attention went to ECH. Your board was there, don't know how it is now, will try to check again later. In India I just went to Harmony House - Hampi Children's Trust, you can spend some time there helping children in their studies. My best regards!!

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