Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

BANGLADESH

Apanhei um curto voo direto e aterrei no aeroporto de Dhaka onde me esperava o CS Razee.
Uma viagem que realizei no mês passado.
Conheci parte da sua hospitaleira e desafogada família e com ele me aventurei, de riquexó, tuk-tuk, carro ou autocarro, uns mais novos outros velhíssimos, pelo louco e incessante trânsito da capital adentro.
Dhaka é uma megacidade com mais de 12 milhões de habitantes localizada na margem oriental do rio Buriganga, no centro geográfico do país na região dos grandes deltas dos rios Ganges e Brahmaputra. É a nona maior cidade do mundo e também uma das cidades mais densamente povoadas. É conhecida como a Cidade das Mesquitas e como a Capital do Riquexó.
No séc. XVII sob o período Mughal era uma capital provincial e o centro do comércio mundial de musselina. A cidade moderna, no entanto, desenvolveu-se principalmente sob o domínio britânico no século XIX e é hoje o centro da vida política, cultural e económica do Bangladesh.
Dhaka sofre de problemas urbanos como a poluição, o congestionamento e a falta de serviços adequados, devido ao aumento da população. E tudo piora nesta altura das chuvas...
O lixo espalha-se pelas ruas, há esgotos a céu aberto, águas estagnadas e putrefactas à mistura com o cheiro a sabonetes, incenso e perfume à porta das lojas da especialidade e com o peixe, especiarias, frutas e legumes frescos nos mercados.
O Bangladesh é hoje um país islâmico moderado em pleno desenvolvimento e cheio de disparidades, com uma classe rica e abastada a viver paredes meias com uma extrema pobreza.
Tal como no Nepal, veem-se mulheres a trabalhar nas obras públicas.
Na Universidade de Artes conhecemos a Angelika, uma alemã com negócios no país e juntos, de riquexó, percorremos as ruas e ruelas da Velha Dhaka.
Visitámos o forte Lalbagh, construído em 1678, um imenso jardim fortificado com uma pequena mesquita, um palacete transformado em museu e o templo de Pari Bibi, filha do Vice-Rei mughal, Shaista Khan.
O forte foi palco de uma sangrenta batalha na guerra da independência em 1857, quando 260 Sepoys, alta casta hindu, corajosamente se revoltaram contra um exército britânico inteiro.
 Curzon Hall
Na Universidade de Ciências, conhecida como Curzon Hall, tivemos direito a fotos tiradas por um fotógrafo profissional. Em seguida visitámos o Museu Nacional  com uma grande coleção de obras de arte do período hindu, budista e muçulmano e o alcorão exposto em árabe, para além de cartas Persas e obras dos Bengalis.
Mesquita Nacional Baitul Mukarram
A cerca de 29 km de Dhaka, na direção de Chittagong, fica Sonargaon, uma das mais antigas capitais de Bengala. Foi a sede da dinastia Deva até ao século XIII. A partir deste século até ao advento Mughal, Sonargaon era a capital subsidiária do Sultanato de Bengala.
Mas o que me trouxe ao Bangladesh não foi nada disto. Mas sim um projeto que há muito queria conhecer – o Dhaka Project! Foi para lá que me dirigi, de riquexó, no segundo dia em que cheguei e foi para lá que voltei depois de uma breve visita à cidade de Dhaka.
O Projeto situa-se em Gawair e fui recebida no edifício principal pelo Jewel, um dos responsáveis, que depois me conduziu à Guesthouse onde fiquei instalada. Um espaço que me soube a ‘casa’, então só para mim, com todas as facilidades.
O Dhaka Project foi fundado em 2005 pela Maria, uma hospedeira de bordo portuguesa a viver no Dubai, após ter sido confrontada, numa paragem de rotina na cidade, com o extremo limiar de pobreza e miséria humanas.
Presta auxílio a famílias dos bairros de lata de Dhaka, principalmente crianças e mulheres, em situação de miséria extrema, visando primordialmente as necessidades mais básicas como a alimentação, a saúde e educação. O Projeto sustenta-se de donativos e promove também diversas atividades com vista à obtenção de fundos e bens necessários à prossecução do seu objetivo.
Há um infantário, um centro de dia pré-escolar e a escola dos mais velhos compreende mais de 400 alunos.
Esta mesma escola serve também para dar Formação a Adultos, em horário noturno em áreas como Inglês, Informática, Cozinha, Costura, Higiene, Planeamento Familiar e Cultura Geral. Os homens frequentam as aulas de condução numa escola exterior mas apoiados pelo Projeto.
Andei pelas salas de aula, sala de informática, biblioteca, conheci diretoras e ri-me com os professores na respetiva sala, numa altura de correção de exames… Uf! Do que me livrei!
A escola tem ainda um gabinete médico, um consultório dentário e até um salão de cabeleireiro. Todas as crianças apoiadas pelo Projeto estão vacinadas contra a Hepatite, Poliomelite, Tétano e Febre Tifoide. Oitenta mulheres trabalham para o Dhaka Project após formação dada pelo mesmo, em áreas como Manufaturação Artesanal, Cabeleireiro, Manicure e Esteticista. E muito mais!
É um Projeto muito bem organizado que me surpreendeu pelo excelente trabalho. O meu objetivo em particular era aprender alguma coisa com esta experiência mas a realidade é diferente do Nepal e tudo o que aqui foi conseguido pela Maria transcende-me completamente. Nunca conseguiria obter estas ajudas para montar uma tal infraestrutura.
O Projeto está agora nas mãos de locais e a Maria dedica-se à sua nova Fundação, a Christina Foundation, que visa possibilitar uma educação de qualidade e estudos superiores a algumas crianças do Bangladesh no Dubai. Para isso ela trepa montanhas, corre maratonas e até foi ao Pólo Norte no sentido de conseguir fundos e apoios. E consegue, de muitas fontes. A prova de que a solidariedade não tem fronteiras. Bravo, Maria! E é bom saber que aqui o nome de Portugal não é apenas conhecido pelo futebol…
Diariamente a Amrida servia-me o almoço, com a Ratna, costureira, andei pelos mercados procurando a cor condizente para rematar o fato, aqui chamado Shalwar kameez, cujo tecido a Sunita me oferecera nas vésperas da minha partida, e com o Jewel partilhei refeições noturnas.
Mas para onde eu seguia, todos os dias, deliciada, era para aqui: o infantário! Conheci estas crianças, gostei e voltei, principalmente por elas. E pela Asma, a zelosa professora. Era um prazer acompanhá-las nos estudos e partilhar momentos de lazer, de dança e de repasto.
E como é que se pode resistir a estas carinhas larocas?!! Ahhh, mas a principal foi esta: a pequena Ratna. Amor à primeira vista. Alguém a pôs ali de propósito!! A miúda estava ali para me ‘enfeitiçar’!!!
Depois de ultrapassado o inevitável chamamento inicial de ‘Maria’, pronunciava o meu nome com tal sonoridade e expressividade, os olhitos arregalados, o sorriso rasgado, que fiquei cativa.
Triste logo no primeiro dia quando a mãe a veio buscar, já esta me dizia ‘take, take’! Com três filhos e a viver em condições deploráveis não admira que lhe desse jeito que eu a levasse comigo.
E foi pela Ratna que o fiz, o que nem sequer estava nos meus planos:
Fomos às compras na mercearia, levei-as à barraca de apenas uma divisão onde mora a família toda e andei com a mãe de trás para a frente, de riquexó claro, no dentista, no raio-X e na farmácia. O marido partira-lhe os dentes da frente e ela tinha imensas dores.

Aliás, assisti a algumas cenas de violência doméstica na zona, em plena rua. Decididamente aqui os direitos das mulheres não são de todo respeitados. Ainda lhe ofereci a túnica que trazia vestida, de que ela gostou, e mais alguma roupa. Toda a minha roupa é ‘descartável’ e eu ando mesmo a precisar de um pretexto para comprar nova… No penúltimo dia andei com dois jovens do Dhaka Project, o Alamin e o Rabin, de trás para a frente, desta vez de tuk-tuk, sob chuva intensa, a caminho da Embaixada dos Emirados Árabes Unidos, para tratar do seu pedido de visto para o Dubai. Foi a própria Maria que me pediu para os auxiliar. Fiz o que podia dadas as circunstâncias.
No último dia, de manhã, despedi-me do pessoal do Dhaka Project, doei o dinheiro que me restava (a notícia que saiu no blog do Projeto está no link em baixo), fui abraçar a Asma e as crianças do infantário e cheguei ao aeroporto, sem uma taka sequer, onde me esperava o Razee que decidiu vir comigo visitar o Nepal.
O avião da Biman Airlines, não sei porquê, exibia instruções em português a par com o inglês. Terá a Maria também algo a ver com isto?
Chegámos a Kathmandu num pulinho, levámos um bocadão para chegar a Pokhara, mas ainda cheguei a tempo para festejar o meu aniversário com a minha ‘família nepalesa’ que me preparara uma festa.
Só mais uma coisa: Achei por bem gastar todo o dinheiro dos donativos que me enviaram apenas no Nepal, é esta ‘a minha/nossa causa’.  O que gastei com o Dhaka Project ficou por ‘conta da casa’. Obrigada, queridos pais!

2 comentários:

  1. Lindo!
    Mas conheceste a Maria?
    Bjs

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  2. Não, ela vive no Dubai, foram apenas contactos através do ciberespaço. Bj

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